segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Intellect (não sei quem é o autor)




Foto postada por Má Palas.

domingo, 9 de setembro de 2007

POR UM MUNDO MAIS CRIATIVO E ESTÉTICO

IVAN FERRER MAIA


Diante de uma paisagem, logo vem o sorriso e um sonho - a felicidade, um estado sublime de grande beleza. A criatividade possibilita os humanos a construírem novos sonhos, à felicidade. Mas os humanos buscaram um outro caminho, o da repetição.

Um dia, o filósofo Schopenhauer comparou, de maneira cômica e desesperançosa, o empreendimento humano com o da toupeira de patas em forma de pá: "cavar esforçadamente com suas enormes patas em forma de pá é o negócio de sua vida; cerca-o a noite permanente... O que ele obtém com esta vida tão cheia de dificuldades e vazia em prazeres? A alimentação e a procriação, ou seja, os simples meios para continuar e começar de novo, em novos indivíduos, o mesmo destino melancólico" (Schopenhauer apud Eagleton, 1993, p.117).

O que o filósofo do século XIX estava tentando alertar era para o modo de vida infeliz, que a grande parcela da população vivia, sem liberdade, dignidade e conforto: "...fazer sempre o mesmo trabalho mecânico é pagar muito caro pelo prazer de respirar" (Schopenhauer apud Eagleton, 1993, p.118).

Em pleno século XXI, as condições não são muito diferentes. A população mundial ainda passa boa parte do seu tempo vivendo de maneira mecânica e burocrática. O curioso é que, dos quase seis bilhões de habitantes do planeta, apenas um bilhão são considerados trabalhadores. Tirando os quase 150 milhões de desempregados no mundo, "os outros cinco bilhões são crianças, velhos, pensionistas e aposentados, donas de casa que cuidam da família, jovens que estudam e pessoas que vivem em busca do que fazer para sobreviver - se pobres ou tentando matar o tempo - se herdeiros de fortunas” (De Masi, 2000, p. 13).

Trabalhadores ou não, muitos fazem de suas vidas cenas enfadonhas, como se fosse proibido ser feliz na terra e devessem sofrer para que a felicidade pudesse ser alcançada somente no jardim do Éden, quando mortas. Não se trata de hedonismo, mas de dar sentido mais agradável à vida. A mecanização, a burocracia, o pensamento totalitário e a universalização do gosto demonstraram ser insuficiente para melhorar a qualidade de vida do mundo. Os preceitos iluministas centrados na pura racionalização e no progresso, demonstraram ser inadequados já no início do século XX, com as duas grandes guerras - os campos de concentração, as explosões nucleares de Hiroshima e Nagasaki.

Mesmo assim, a sociedade ainda privilegia a mecanização e a burocracia. Muitos pensadores e pesquisadores (Capra, 1992; De Masi, 2000; Gardner, 2000; Goleman, 1995; Maturana, 2001; Morin, 2002) têm apontado a criatividade e a sensibilidade como saídas desse mal estar. A questão não é substituir a razão pela emoção, e sim de estabelecer um equilíbrio, um novo paradigma para a vida que também leve em consideração a criatividade e a estética.

Na sociedade atual, muito se discute sobre a criatividade. No entanto, pratica-se a mecanização. Tomemos dois exemplos de importantes instituições - as empresas e as escolas - onde são comuns sempre ouvirmos alguém discursar sobre criatividade. Na primeira, é corriqueiro depararmos com frases do tipo: "precisamos de colaboradores criativos". Já nas reuniões pedagógicas das escolas, a expressão da moda é "devemos trabalhar as habilidades e competências dos alunos", ou ainda, "nossa missão é formar cidadãos criativos".

Afinal, o que querem dizer quando utilizam o termo criativo? Será que os empresários têm noção do que significa colaboradores criativos? Os educadores estão realmente lúcidos para o termo criatividade ou é mais um jargão escolar? No primeiro momento, pensamos que estão se referindo realmente à criatividade. Se atentarmos, veremos que é praticado exatamente o oposto.

Quando uma empresa solicita aos funcionários maior criatividade, está almejando que eles aumentem a produção, claro, para gerar mais lucro. Não são poucos os empresários que têm nos relatados que criatividade na empresa seria a maneira na qual os funcionários lidam com os problemas, envolvendo clientes, colegas, família, doenças etc. Lidar com o problema, nesse caso, quer dizer: o modo como os funcionários se adaptam aos problemas ou subvertem-nos sem deixar cair a produção da empresa.

O enfoque está no fim, esquecendo o bem estar do trabalhador. Se os trabalhadores são os grandes responsáveis pela qualidade do produto, o bem estar deles deve ser levado em consideração. Trabalhadores com melhores condições - de salário, ambiente agradável, saúde física e psicológica - estão mais motivados para as suas responsabilidades. Por ironia, os empresários ainda insistem em amordaçá-los. Trancafiam-nos em cubículos e os afogam no meio de um sistema burocrático. Pensando ser empreendedores inovadores, repetem a mesma mecanização encontrada na história do trabalho.

Nas escolas as coisas não são muito diferentes. Os educadores estão preocupados na produção da informação, em terminar o livro didático ou apostila. Estão interessados na quantidade de informações produzidas dentro da sala de aula e não na construção do conhecimento, como se os estudantes fossem gravadores para memorizar as informações, ou impressoras para reproduzir o conteúdo. Dessa forma, para muitos educadores o estudante criativo é aquele que se enquadra na matriz conceitual do educador - de memorizar e reproduzir as informações.

Qualquer disciplina escolar pode trabalhar com a criatividade, porém é com a Educação Artística ou Arte que a criatividade ganha prioridade e pode alcançar graus superiores em relação às outras disciplinas, visto que desenvolver a criatividade é um dos maiores objetivos da Educação Artística, e não é apenas temática transversal igual para as outras disciplinas.

Para ter a noção da prioridade que as escolas dão a criatividade é só mensurar, no currículo escolar, a quantidade de disciplinas que privilegia o pensamento lógico-dedutivo e o número de disciplinas que visam despertar a estética e o potencial criativo. O pior é que as poucas aulas de Educação Artística são ministradas, normalmente, por professores de outras áreas, que nunca ouviram falar, por exemplo, da técnica Dripping Paint (Action Painting), de Jackson Pollock - e continuam utilizando a cópia de estampas.

Nos dois exemplos citados existe um grave problema. Ambas as instituições, ao contrário que muitos dizem, ainda tratam os indivíduos como máquinas! O homo faber continua sendo o modelo atuante. O foco não está na competência ou na habilidade do indivíduo e sim nos seus movimentos mecânicos, no homem maquínico.

O homem maquínico é aquele que tem que cumprir maquinalmente o horário pré-estabelecido pela instituição. Cumpre, muitas vezes, sem ter o que fazer naquele instante - está ali por questões burocráticas. É o profissional da tal sociedade burocrática denunciada pelo sociólogo De Masi (2000). A burocracia exagerada é uma das grandes causadoras do empobrecimento da mentalidade criativa, do estresse, do desemprego, do mal estar social.

A criatividade vai muito além da concepção dada pelos burocratas. Criatividade é a função mental superior dos seres humanos e não se restringe à adaptação. É um poderoso recurso que todos os humanos têm para transformar sua realidade interna e externa, resolver problemas e buscar uma vida melhor.

Urge um paradigma estético para nortear as relações de cooperação capaz de atuar na percepção e na cognição dos indivíduos, a ponto de potencializar a criatividade. A Estética é o caminho e a cooperação criativa é o veículo para alcançar as portas da percepção e da cognição, à otimização da criatividade.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
Capra, F. (1992). O Ponto de mutação. São Paulo: Cultrix.
De Masi, D. (2000). O futuro do trabalho. Brasília, DF: UNB, José Olympio.
Eagleton, T. (1993). A ideologia da estética. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Gardner, H. (2000). Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas.
Goleman, D. (1995). Inteligência Emocional. Rio de Janeiro: Objetiva.
Maturana, H. (2001). A ontologia da realidade. Belo Horizonte: UFMG.
Morin, E. (2002). O método 1: a natureza da natureza. Porto Alegre: Sulina.



Gente, S.f. 1. Quantidade maior ou menor de pessoas indeterminadas; povo. 2. Determinado número de pessoas que têm em comum certas características, ou profissão, ou interesse pessoal.

Noção. S.i. 1. Conhecimento, idéia. 2.Informação, notícia.

Gente sem noção, S.f. O gênero humano; a humanidade de um monte de gente escrevendo sobre cultura dando sua noção das artes.

Foto: Antigo Atari Club - Cabine do Dj.