quinta-feira, 24 de abril de 2008

Modo alternativo de trabalho (Sem Internet)

Texto de Má Palas

São 16:28, quinta-feira, ensolarada na megalópole paulistana. Nesta ambiente outrora tão comunicativo, intenso corrido e cheio de “pepinos” tecnológicos, sinto saudade das discussões e negociações. O único som que interrompe o ambiente é o do vento que entra pela janela.
O dia amanheceu com greve geral da tecnologia dentro de uma empresa de tecnologia. Confuso? Estranho? Contraditório? Acho que é tudo isto e mais um pouco... Estamos abandonados, estagnados e com mãos atadas na avenida da vida sem internet.
É óbvio que tenho a presença do telefone que sempre toca. E aí? Você não está trabalhando hoje? Por que você não está online no MSN? E lá vai............ A MINHA PESSOA contar a terrível história que os equipamentos tecnológicos resolveram dormir mais do que o necessário, ou, nem sabem que há um novo dia para se ganhar dinheiro.
O êxtase de todo este acontecimento, e que eu mais gosto de contar e ver, é que estou dentro do desenvolvimento de uma nova metodologia para desvendar o grande mistério da pane geral!! Aí Aí Aí... Trocam-se equipamentos, testam-se cabos, mudam-se de máquinas e, atéeeeeeee de ambientes. Alguém grita : um outro novo técnico! Liga para um, liga para outro, chega uma nova pessoa. Opa, nosso salvador! Só que o problema ainda continua: inexistência do sinal dentro dos nossos micros. Como pode, né? Dependência total da Internet. Odeio a Internet! (não quero ficar fora do mundo virtual..snif, snif!)
Eu resolvo deixar o pessoal lá na discussão se deve ser disso ou aquilo. Falta-me paciência, quero que a informática, o roteador, internet, o novo técnico e qualquer coisa que me faça pensar e sentir o gosto da comunicação virtual se juntam em uma coisa só e vão para “puta que pariu”.
Minha saída é arrumar uma alternativa para realizar o trabalho (sem Internet mesmo). Descubro o quão é amigável (e trash) o telefone, o fax e o nextel. Descubro também que me falta um pouco de sensibilidade com as pessoas, e comigo mesma, por ser só mais um humano que não está no mundo internético teclando deliciosamente com meus clientes. Retrocesso total de vida, af!

Má Palas
A orquestração poética de vozes múltiplas.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Diretas já... Já?


Texto de Mário Lemes


"Entre cortes de cabelo e roupas, vemos uma população que se entrega a qualquer modismo que aparece, de repente, numa tela."

Muito se fala sobre a "democratização da moda"[1]. E é comum vermos opiniões como "não podemos criticar o jeito dos brasileiros se vestirem, quando as grandes grifes nacionais só produzem roupas com preços nada acessíveis". Argumentos assim partem do princípio de que só existe roupa elegante e de boa qualidade com as marcas mais caras. E também deixa implícito que o povo brasileiro quer se vestir melhor, mas não tem condições. Talvez ambas as afirmações mereçam ser analisadas com cautela.
Em primeiro lugar, devemos lembrar de que existe muita coisa boa por aí, que não tem uma marca famosa na etiqueta. Claro, é mais fácil achar um jeans com um caimento perfeito da Ellus do que em meio ao Brás. Mas, quando o assunto é roupa, saber garimpar é um dom muito precioso. Saber (e ter tempo de) andar por aí, procurar em sites da internet, folhear todo tipo de catálogo em busca do melhor para se vestir é de extrema importância. "Compre menos, escolha mais" disse a estilista, rainha do Punk, Vivienne Westwood [2].
É possível, sim, vestir-se bem gastando pouco. É claro que ter dinheiro ajuda, mas com um pouco de paciência, esforço e bom gosto, uma pessoa de classe social inferior pode, sim, ser bem mais estilosa que qualquer nome da alta sociedade.
Outra questão a ser levantada é o fato de que o brasileiro é um povo sem identidade no quesito vestuário. Não me refiro aqui à moda das marcas brasileiras, não, elas recebem cada vez mais destaque no mercado e estão de parabéns. Também não me refiro àqueles que realmente entendem de Moda e/ou têm um estilo próprio muito bem elaborado, que se vê pelas ruas do país. Quando foi dito "povo brasileiro" estava me referindo à grande massa, à enorme parcela da população que gosta de usar qualquer peça que vê na mídia sem nenhuma preocupação com acabamento, qualidade, estética, etc.
Lembram dos shortinhos do " É o Tchan" [3]? E das pulseirinhas da Jade[4]? Pois bem, entre cortes de cabelo que podem deformar um rosto e roupas "despretensiosas", vemos uma população que se entrega a qualquer modismo que aparece, de repente, numa tela. Sem falar da preocupação da maioria dos brasileiros, principalmente, de mostrar ao máximo o corpo. As popozudas do funk, os "saradões" da praia, etc, não querem saber de se vestir com elegância e talvez nem com estilo: querem, simplesmente, mostrar músculos e curvas.
Diante de questões como estas, não tem como não julgar o assunto "Democratização da Moda" algo, no mínimo, complexo demais para se posicionar com argumentos óbvios. É como dizer, sem possibilidade de contestação, que se é contra o aborto, contra a eutanásia, a favor da pena de morte, etc. Este é um assunto que tem dois (ou até mais) lados que devem ser cuidadosamente ponderados.
Será que o brasileiro quer e se preocupa em vestir-se melhor? Se sim, será que é tão difícil fazê-lo? Dizer que basta as grifes baixarem os preços e fashionistas abrirem espaço para a grande massa é um tanto (e bota tanto nisso) hipócrita.
Será que boas roupas e a acessibilidade a elas, superariam o fetiche nacional de vestir tudo que aparece na TV? Talvez... Mas creio que levaria alguns milênios!

[1] Nesse blog há um post falando sobre o assunto: prataporter.blig.ig.com.br

[2] viviennewestwood.co.uk

[3]Sucesso nos anos 90, o "É o Tchan" foi um grupo de Axé com músicas de forte e implícito apelo sexual, também conhecido por suas dançarinas com roupas sensuais demais.

[4]Jade foi uma personagem da novela "O Clone" de Glória Perez. A novela retratava, entre outras coisas, o mundo árabe e a personagem ganhou identidade com as pulseiras que se conectavam em um anel e virou febre.

Mário Lemes é articulista de Moda do site:http://www.revistamirabolante.com.br/

sexta-feira, 18 de abril de 2008

AMBIENTES VIRTUAIS COOPERATIVOS


[ texto publicado no site publicado no site http://www.viraweb.com.br de 1/11/2004]

Texto de Ivan Ferrer Maia


Apresento um panorama geral de conceitos relacionados ao Ambiente Virtual Cooperativo, que é um instrumento capaz de apoiar os processos de aprendizagem e trabalhos em grupo. A comunidade profissional, interessada nos Ambientes Virtuais, introduziu em 1984, no seminário organizado por Paul Cashman e Irene Greif, o conceito de Trabalho Cooperativo Suportado por Computador (Computer Supported Cooperative Work – CSCW). Aqui no Brasil, Borges (et al, 1995) define CSCW como um ambiente computacional que implementa os processos de apoio à cooperação, e assim, permite o trabalho, a produção em conjunto e a troca de informações. Conforme Barros (1994), o perfil promissor do CSCW leva-o também a ser utilizado como apoio à aprendizagem cooperativa. Por não ter sido construído com esse propósito, o CSCW sofre adaptações, agregando em sua estrutura novas ferramentas para auxiliar na tutoria e na aprendizagem, originando o Sistema de Aprendizado Cooperativo Apoiado por Computador (Computer Supported Cooperative Learning - CSCL).Para Benford (1997, s/n), o termo Ambiente Virtual Cooperativo é um "ponto de encontro no Ciberespaço", uma plataforma ou um suporte que permite interações para auxiliar tanto a aprendizagem quanto a produção cooperativa. Benford (1993, s/n) apresenta duas condições para que um sistema seja considerado Ambiente Virtual Cooperativo: a existência de acesso simultâneo a um sistema de Realidade Virtual e o suporte explícito das necessidades dos utilizadores que pretendam trabalhar em conjunto. Um aspecto importante nesse tipo de sistema é a existência de um espaço virtual que Trefftz (1996) define como um mundo não material, o qual possibilita relacionar à distância com múltiplos usuários, através de computadores ligados em rede. O mesmo autor afirma que a interação pode consistir desde a troca de idéias por escrito, até ao uso de espaços 3D com possibilidades de movimento e troca de voz. Numa definição mais ampla, também são incluídos sistemas do tipo MUD (Multi-User Dungeons) e IRC (Internet Relay Chat). Esses tipos de sistemas e as suas implicações sociais são discutidos em Rheingold (1993).No entanto, tais definições têm em comum a necessidade de cada usuário estar consciente dos outros usuários. De fato, Benford (1997) afirma que a essência do Ambiente Virtual Cooperativo é a representação explícita do usuário dentro do espaço partilhado.Para Rodden (1997), um Ambiente Virtual Cooperativo pode ser definido como um espaço partilhado existente dentro de um computador, habitado por usuários, que tem a sua representação no espaço e que se encontra já implementado por um conjunto de tecnologias (MUDs e MOOs para 2D e ambientes de Realidade Virtual distribuídos para 3D).Benford (1997) aponta três razões principais para o desenvolvimento de Ambiente Virtual Cooperativo. Primeiro, o suporte das naturais competências espaciais de um conduto de usuários oferece um modo mais natural para interação humana. Segundo, a escala inerente para lidar com a interação entre um grande número de usuários. Terceiro, adequação para tarefas espaciais que exijam cooperação, como mostrar as aplicações de Realidade Virtual existentes, autorizando o suporte a ser estendido para permitir cooperação. Agostini e Michelis (1997) ressaltam o caráter interdisciplinar do Ambiente Virtual Cooperativo e propõem requisitos gerais que esses sistemas devem possuir: serem sistemas abertos, possuírem continuidade multimídia, contextualização e integração da comunidade e da ação, além de interfaces personalizadas e seletivas para os espaços de trabalho.Também Wexelblat (1993) defende dois princípios para o Ambiente Virtual Cooperativo. A cooperação não pode ser tratada como uma atividade separada, o que significa que o suporte dado pelo computador deve enquadrar-se no padrão de trabalho do usuário. O segundo princípio indica que as aplicações devem possibilitar a cooperação entre pessoas pela ultrapassagem de obstáculos do tempo e do espaço. Uma das vantagens dos ambientes computacionais cooperativos, segundo Lévy (2000), é a disposição constante em trabalhar para toda a comunidade. Para ele os groupwares possibilitam que o debate seja dirigido para a construção progressiva de uma rede de argumentação e documentação, que está sempre presente aos olhos da comunidade, podendo ser manipulada a qualquer momento. Esses ambientes computacionais contêm recursos que favorecem a sua utilização como um sistema de Educação a Distância. Há diversos ambientes de EAD desenvolvidos em todo o mundo. Dentre eles, podemos destacar o WebCT (Goldberg et al, 1997), o AulaNetTM (Aulanet, 2000), o Lótus Learning Space (Lótus, 1998) e o TelEduc (TelEduc, 1996). Atualmente, diversos setores da sociedade - empresas, instituições de ensino, órgãos públicos - utilizam os ambientes virtuais presencialmente ou a distância, como plataforma para desenvolver trabalhos ou a aprendizagem cooperativa.

IVAN FERRER MAIA Doutorando em Multimeios / UNICAMP, Designer, Diretor Pedagógico da COOPERCAMP, Reitor e Professor da UEMG, docente das disciplinas de Metodologia Científica, Arte e Sociedade, História da Arte e Turismo Cultural. Especialista em Criatividade, Cultura Visual e Tecnologia Digital.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Vídeos selecionados na 1ª Mostra Campanhense de Vídeo

Todo ano acontece em Campanha, Minas Gerais, uma feira de livros realizada pela ONG Sebo Cultural que está localizada nesta cidade.
Neste evento sempre há algumas atividades culturais no decorrer do dia. Este ano a novidade se reside em um Mostra de Vídeo, confira abaixo maiores informações do evento.



A ONG Sebo Cultural divulga o resultado da seleção de vídeos inscritos na 1ª Mostra Campanhense de Vídeo, que tem como objetivo exibir e discutir vídeos, produzidos por campanhenses – nascidos ou moradores de Campanha/MG. A 1ª Mostra é parte integrante da 8ª Feira do Livro, que acontecerá nos dias 12 a 15 de junho de 2008.



1 - Título: "Brigadinho" - 13 minutos - documentário - entrevistado: Maurício Freitas Ferreira da Luz - Direção e Edição: Isa Veiga e Renato Moterani - Roteiro: Isa Veiga e Artes: Renato Moterani.





Maurício, natural de Campanha/MG, se destaca na comunidade através do seu estilo rústico e simplório. Uma pessoa carismática, humilde e solitária, mas com muita alegria de viver. Reside em uma pequena casa onde tem apenas a companhia de sua cadela e de animais da natureza.



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2- Título: "Prazer! Meu nome é Sérgio". A vida de um catador de material reciclável - 30 minutos - documentário - entrevistados: Sérgio Guariza, 47; Cleonice Maria Batista Guariza, 29; Alice Guariza, 4 e Lucas Guariza, 2. - Direção: Isa e Renato Moterani da Silva - Roteiro e artegráfica: Luís Henrique Alves Pinto - Coordenadora: Professora Caloline Marchesine.






"Prazer! Meu nome é Sérgio" é um documentário sobre vida, pessoas, ecologia... Para romper o anonimato, as lentes captam além das aparências. Elas procuram mostrar as lutas, amores e sonhos de Sérgio, Cleonice, Alice e Lucas, uma família de catadores de material reciclável. A preservação ambiental tornou-se nas últimas décadas tema recorrente das mais variadas instâncias, das salas das universidades e gabinetes políticos aos meios de comunicação e conversas do cotidiano. Contudo, é na existência concreta de pessoas como Sérgio e sua família, que acontece uma das mais eficazes práticas de defesa dos recursos naturais do planeta Terra. Seus esforços são concentrados e organizados em organismos como a ASCOL - CAMP (Associação de Coletores de Materiais Recicláveis de Campanha-MG). Atual e envolvente o filme é um mergulho na realidade... Imperdível.




Texto e Post - Má Palas e ONG Sebo Cultural.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

JANGADA DA MEDUSA


[ texto publicado no site publicado no sitehttp://www.viraweb.com.br de 15/03/2003 ]


Texto de Ivan Ferrer Maia

Algo de muito estranho colocou as pulsões (oréxis que move a alma) cognitivas e sensitivas dos seres humanos em crise. Não sabemos especificamente o que é. Sabemos que um novo dilúvio foi anunciado (Pellanda e Pellanda, 2000). A tempestade de informações está congelando os indivíduos a beira mar.O mundo está com uma velocidade incansável, fragmentado, granulado e as informações se justapõem, quando não se sobrepõem. O que fazer diante das novas tecnologias e do oceano de informações que corriqueiramente nos atropelam? A âncora foi recolhida e estamos em pleno dilúvio de informações. É preciso saber navegar. Há uma jangada tecnológica onde novas relações se constroem - um espaço virtual com forte potencial para a construção do coletivo. Esse espaço possibilita trocas de experiências e informações entre os usuários, além de compartilharem dúvidas e reflexões que geram novos conhecimentos.Porém, há aqueles que evitam o diálogo e a tecnologia. Os neofóbicos, os ermitões, os céticos, os pessimistas recusam embarcar nessa odisséia. Poseidon agita o mar e eles ficam apreensivos em ser naufragados. Temem ser os protagonistas de A Jangada da Medusa (1819) de Géricault. Querem se isolar e se sentem apegados à terra, mas já a perdemos (Husserl). Diante da foto noturna do planeta Terra tirada pela NASA, eles refutam o discurso da exclusão digital e propõe uma leitura da cartografia do sossego.No entanto, esquecem que é por meio da interação que o homem está construindo sua cultura. A necessidade de se comunicar gerou o desenvolvimento da oralidade e da escrita. Na situação atual, a tecnologia veio suprir o problema da distância geográfica, do tempo síncrono e assíncrono, da velocidade e da transferência de informações. Os ermitões não querem se aventurar como fez Ulisses na viagem a Ítaca. Eles receiam dialogar com o outro. Freud já nos avisava, o outro é como um reflexo do nosso espectro. Ver o outro é nos ver. O Ego Ideal pode desmanchar-se. É agonizante. Por isso, a recusa do outro.No entanto, vemos no outro oportunidades para evoluir. Nas relações há trocas simbólicas e formação de novos significados, conseqüentemente aumenta a autoconscientização. Apesar de alguns infortúnios, o ser humano está mais autoconsciente do que nunca. Entramos na Era Consciencial. O muro já não está tão alto. Assistimos o declínio das fronteiras. A telescopia agora é interativa.O ser humano é dialético e para construir novos saberes requer uma postura de diálogo constante com o mundo. A distância se encurta, o tempo se desfaz: como posso sedimentar o meu universo me afastando do outro? A formação do ser humano se realiza pela interação entre a sua estrutura interna com o mundo externo (constituído de signos, de pessoas, de um complexo social e ecológico). É por meio do diálogo que se rompe com o egocentrismo (infantil) e com o egoísmo (adulto), criando-se um ambiente de liberdade e cooperação. Para Paulo Freire, o diálogo é "o encontro de homens que pronunciam o mundo" (Freire apud Matui, 1998, 74).Dessa forma, as interfaces dos ambientes virtuais devem ser desenhadas visando o encontro / troca de idéias e conhecimento entre os usuários, a partir de ferramentas como chat, portfólio, fórum de discussão e outras.Essas ferramentas são oportunidades para interação e permitem que a estrutura interna do indivíduo se estabeleça em um processo de equilíbrio (assimilação e acomodação piagetiana), desenvolvendo maior condição de suportar e construir novos saberes. Nas palavras de Piaget, "uma equilibração é necessária para conciliar os aportes da maturação, da experiência dos objetos e da experiência social" (Piaget apud Montangero, 1998, 161). Em termos de ecologia cognitiva (Lévy, 2000), as inter-relações (sujeito-sujeito, sujeito-mundo) se realizam em um espaço-tempo de aprendizagem e estabelece a figura do sujeito-social do conhecimento. Na ecologia cognitiva o espaço sócio-cultural é estruturado por apropriação participatória, ação interguiada e aprendizagem cooperativa, além de formar uma área de desenvolvimento proximal (Vygotsky). O ambiente virtual que sustentar o processo de equilíbrio do indivíduo poderá ser considerado um espaço de realizações significativas de ações conjuntas, um espaço centrado na evolução humana, capaz de suportar o novo dilúvio de maneira transformadora.

IVAN FERRER MAIA Doutorando em Multimeios / UNICAMP, Designer, Diretor Pedagógico da COOPERCAMP, Reitor e Professor da UEMG, docente das disciplinas de Metodologia Científica, Arte e Sociedade, História da Arte e Turismo Cultural. Especialista em Criatividade, Cultura Visual e Tecnologia Digital.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Da boca à barra


Texto de Mário Lemes


"Em um mundo fashion feliz, o cós alto e o baixo, a skinny e a pantalona, podem conviver em harmonia."

Se você der uma rápida olhada em fóruns sobre Moda pela internet, vai ver que um dos assuntos mais "queridinhos" dos últimos meses é a volta da calça de cós alto. Uns dizem que são "a favor", outros que "de jeito nenhum" e alguns um pouco mais imparciais dizem que "depende".
A mesma coisa acontece quando alguém menciona que as queridíssimas skinnies [1] estão com os dias contados e darão lugar à pantalona. Muitos se desesperam e se descabelam. E não é diferente quando surge algum comentário sobre uma possível decaída das maxibags[2].
Algum pseudo-rebelde deve ter dito a essas pessoas que Moda e Política são a mesma coisa. Pois bem, não são! Ninguém tem que ser a favor ou contra nada, o que existe é o gosto, a preferência. Não é para existir o "Partido dos Anti-Cós-Lá-Em-Cima" e nem a "Associação de Defesa da Skinny". As tendências existem, sim, e mudam constantemente, mas ninguém vai obrigar ninguém a usar o que não quer. É um consenso entre os fashionistas que o cós alto, quando bem usado (em pessoas magras e de preferência altas), realça muito a elegância. Na Europa, a onda já pegou e já está até indo embora. Pra sempre? De forma alguma. Quem ousou experimentar a cintura alta e achou que caiu bem, pode e deve continuar usando. Com as skinnies também: elas apareceram há uns dois anos, se popularizaram ano passado e realmente merecem um grande destaque no guarda-roupa de muita gente. Quem tem o tipo de perna adequado e achou que ficou bem com os tais jeans grudados, que continue usando! A pantalona[3] vai reaparecer com força em questão de dias, mas as skinnies têm tudo pra continuarem em alta, só não vão ser mais novidades, aliás, já não são.
Sabia que os membros do Ramones[4] nunca largaram a modelagem justa e reta mesmo quando o mundo todo aderiu à boca-de-sino? Então, quem ama a calça skinny, siga o exemplo deles! E sobre as pantalonas, use se quiser! Talvez ter uma ou duas no armário não seja má idéia.
Quanto às maxibags, nem seria preciso dizer nada, não é? Uma peça extremamente prática e ao mesmo tempo elegante, que não deveria ser esquecida nunca. Quem sabe explorar novas cores, fugir das metálicas enjoativas, buscar novos materiais, menos flexíveis, para dar à mega bolsa um aspecto diferente seja uma boa saída. Mas quanto ao tamanho, nem precisa pensar em mudar (a não ser que queira). Vão aparecer as bolsas médias, as do tipo carteiras, etc, mas em nome da elegância e praticidade, é aconselhável nunca deixar a querida maxibag esquecida no fundo do baú.
Alguém pode associar suas novas calças de cós alto a cafonice, etc. Podem confundir pantalona e boca-de-sino e achar que você está vestido de John Travolta em "Os Embalos de Sábado a Noite"[5]. Se você se importa com isso ou se tais peças não combinam com o seu corpo, é só não usar. Cada pessoa tem uma concepção estética própria, é essa concepção que rotula o que as pessoas vestem; e é a partir da mesma que devemos nos vestir como achamos melhor. Nada se torna brega assim tão rápido, e nem nada se torna unanimidade absoluta. Ainda bem! Sempre vão existir as opções, justamente para não sair todo mundo usando a mesma coisa.
Em um mundo fashion feliz, o cós alto e o baixo, a skinny e a pantalona, podem conviver em harmonia.


[1] Skinny em inglês quer dizer magro, fino, justo. As calças que levam esse nome são aquelas com a modelagem justa desde a parte dos quadris até a barra. Podem ser 100% algodão ou podem levar um pouco de elastano na composição.

[2] Maxibag's ou maxibolsas são aquelas bolsas muito maiores do que as antigamente convencionais. Existem aquelas com aspecto de sacola e outras feitas de material menos flexível com aspecto rígido.

[3] Pantalonas são as calças com modelagem que começa justa na cintura e vai alargando até a barra. Algumas pessoas confundem com boca-de-sino, o que é um grande equívoco. Esta é justa até o joelho, e se alarga a partir dele até a barra e aquela é larga desde os quadris.

[4] "The Ramones" foi uma banda de Punk Rock surgida na década de 70 que tem influência na música até hoje. Tinham um estilo bem característico.

5] Originalmente chamado de "Saturday Night Fever" é um filme americano de 1977 estrelado por John Travolta, que é lembrado até hoje por mostrar a febre das discotecas da época.


Mário Lemes é articulista de Moda do site:http://www.revistamirabolante.com.br/