segunda-feira, 9 de junho de 2008

O Som das Roupas

Texto de Mário Lemes

“Não dava pra ser diferente: Música e Moda precisavam acabar se unindo de alguma forma.”

Moda era Moda e Música era Música. Coisas distintas que andavam bem separadas sem nenhum tipo de “contato físico”. Tudo leva a crer que isso mudou naquele ano de 1954, quando um homem branco começou a ganhar fama por cantar um som típico de negros e dançar como nunca se vira antes. Sim, Elvis marcou o início oficial do que chamamos de Rock’n’Roll, e foi esse “estilo musical” (se é que podemos resumi-lo nesse termo tão pobre) que iniciou a grande influência do que se ouve no que se veste, ou vice-versa talvez.Com o surgimento do Rock, as pessoas passaram a sempre querer quebrar regras, produzir coisas inusitadas e, mais do que nunca, expressar de maneira evidente a personalidade. O Rock é o marco de toda essa influência música-moda que presenciamos. Talvez a razão disso seja o fato de que, a partir de seu surgimento (que já foi por si só uma revolução), várias revoluções começaram a acontecer, ano após ano, década após década. É por isso que hoje é tão difícil responder à pergunta “O que é Rock’n’Roll?”. Foram muitas subdivisões criadas nesse meio século (hippie, punk, grunge etc.) e cada uma querendo evidenciar sua individualidade perante a sociedade. E, nessa busca pelo individual, pela questão de se diferenciar dos demais e pela vontade de mostrar a todos o que pensa, surgiram, junto aos milhares de subgêneros musicais, os estilos de cada um.
É raro algum adepto a um desses movimentos aceitar a palavra Moda [1]. Mas querendo ou não, cada estilo desses criou uma tendência de consumo, uma marca, um marketing.No começo, o Rock era uma fusão de gêneros brancos e negros, Country&Western e Rhythm’n’Blues, e o estilo das pessoas que passaram a curtir o novo som não estava diretamente ligado às origens desses ritmos. A Moda ainda era bastante ditatorial e vemos, na época de Elvis, Bill Haley e Chuck Berry, as conhecidas roupas dos anos 50: apareceu a moda colegial, que teve origem no sportswear. As moças agora usavam, além das saias rodadas, calças cigarrete até os tornozelos, sapatos baixos, suéter e jeans. O cinema também lançou moda, aquela do garoto rebelde, simbolizada por James Dean, no filme Juventude Transviada, que usava blusão de couro e jeans.
No início dos anos 60, as modelagens começaram a ficar mais retas, as roupas mais sóbrias e até os cabelos masculinos foram influenciados pelos Beatles. O Rock vivia um momento de extrema popularidade, e já perdera em partes a associação com a mera rebeldia jovem. E, assim também, a Moda começou a fazer referências às classes operárias e camponesas [2].
No final da década, a rebeldia jovem deixou de ser sem causa: em 1968 os movimentos estudantis contra as normas da sociedade tiveram seu auge. A Contracultura [3] já era Pop, o Rock vivia seu momento mais ácido e alucinógeno [4] e, envoltos por esse clima de psicodelia, os jovens começaram a se vestir com roupas largas, coloridas e despojadas ao extremo. Essa liberdade de pensar, vestir, se drogar etc., passou a ser conhecida como estilo Hippie, o qual até os rapazes de Liverpool acabaram aderindo.
Nos anos 70 a Moda nas ruas se dividia entre os freqüentadores natos de discotecas e os punks. Os primeiros, precursores da boca-de-sino, que estavam sempre ouvindo Dance e até Soul. Foi o auge do black-power [5]. Os segundos, adeptos do movimento anarquista mais “queridinho” de todos os tempos, o Punk. Influenciados pelos Ramones e pelo Sex Pistols [6] andavam de calças bem retas e justas e cabelos exóticos.
No começo dos tão queridos e odiados anos 80, surgiram bandas que não tinham uma definição própria de som, mas sempre se preocupavam em criar algo que se popularizasse com facilidade. Essas bandas tão diferentes entre si, mas que sempre visavam a comercialização do som, foram denominadas “New Wave”. A nova onda trouxe roupas coloridas e descoladas até demais. E até hoje, quando se fala da década de 80, lembramos de polainas, leggings, moletons coloridos, salto plataforma etc. Entendidos dizem que, na prática, os anos 80 só terminaram em 1994. Talvez tenha sido um pouco depois. Talvez, ainda estão para acabar.
A década de 90 trouxe o auge das Raves e do movimento Grunge. Os estilos já estavam dissolvidos, o xadrez ganhava espaço e muitas ideologias e cada camiseta, cada gola, cada sapato, cada cinto, tinha um significado. Se vestir era, mais do que nunca, uma questão de identidade.
E nessa primeira década do século 21, vemos a potencialização de tudo isso. Além de todos os estilos passados que ainda estão (e sempre estarão) “em alta”, surgiu o movimento Emo, que mais do que todos é bastante ridicularizado pelos não-adeptos. As franjas longuíssimas, as pulseiras de bolinha e o quadriculado marcam bem o tal estilo emotivo, embalado por bandinhas como Simple Plan e Panic! At the Disco. Também apareceu a New Rave [7], que começou como um estilo musical improvisado nos shows de Londres e ganhou força na Moda também. Bastante influenciado por peças oitentistas, cores vivas e muito brilho.
Não dava pra ser diferente: Música e Moda precisavam acabar se unindo de alguma forma. Hoje, é impossível fugir de referências musicais no visual. Um cabelo punk, uma blusa New Wave, aquela camisa xadrez que todo Grunge usa. Nossos cabides têm uma relação direta com nossos ouvidos. E, no meio de panos e decibéis, achamos o nosso estilo.

[1] A palavra “Moda”, em essência, se refere à uma tendência de consumo da sociedade. Ou seja, o que “é Moda” é algo querido e aceitável, adjetivos dos quais os Punks queriam distância.
[2] A classe operária e a classe camponesa, nessa época, consistiam em uma grande parcela da população americana. Entre outras coisas, o Jeans é um legado desse tempo.
[3] A contracultura foi um movimento alternativo surgido na década de 60, seguido por jovens que buscavam a quebra dos padrões tradicionais, bem como pregavam pela paz num período de Guerra. A Wikipedia dá uma força: http://pt.wikipedia.org/wiki/Contracultura.
[4] “momento mais ácido e alucinógeno” porque o Rock’n’Roll ganhou uma nova subdivisão, o Acid Rock, que pregava uma cultura de psicodelismo. O LSD ganhava adeptos nessa época, e Jimi Hendrix era praticamente o pai do ritmo. Além de Hendrix, até o Pink Floyd e alguns álbuns dos Beatles ilustram esse período “ácido” da música.
[5] Em inglês quer dizer “Poder Negro”. Os negros mais uma vez ganharam destaque na música, na moda, nas atitudes. O mundo todo admirava o estilo Black Power, que, entre outras coisas, é marcado pela inconfundível cabeleira crespa.
[6] Padrinhos do movimento Punk, o Sex Pistols gostavam de cantar sobre anarquia. Sempre estavam envolvidos em escândalos contra a monarquia da Inglaterra. “E era tudo marketing”, dizem alguns. Imortalizaram a célebre frase “God, save the Queen!”
[7] Os Klaxons foram os precursores do gênero. Veja fotos do estilo New Rave nos links:
http://madeinbrazilmag.com/fashion/labels/pullandbear-1.jpghttp://www.berlinfestival.de/2006/wp-content/press/Klaxons.jpghttp://i7.photobucket.com/albums/y296/imomus/jacketgenerics.jpg


Mário Lemes é articulista de Moda do site:http://www.revistamirabolante.com.br/

2 comentários:

Mariá disse...

texto legal!
visite também meu outro blog: www.surlereste.blogspot.com
abraço

YURI disse...

MUITO LEGAL, VC TEM UMA VISÃO BEM PRECISA E IMPARCIAL DA MODA ATUAL E DAS ULTIMAS DÉCADAS, E ENTENDE MUITO DE MÚSICA , UMA FAÇANHA.... TENHO VONTADE DE CRIAR UMA EMPRESA RELACIONADA AS DUAS ÁREAS (ROUPAS/&/MÚSICA) ABRAÇO