domingo, 23 de março de 2008


Roupinha de Pelúcia

Texto de Mário Lemes

Uma verdadeira odisséia. Guerra declarada. Para variar, moralistas de um lado e "gente-que-não-tá-nem-aí" do outro. Tudo começou (mais evidentemente) em Hollywood, por volta da década de 30, os fotógrafos descobriram que as estrelas vestidas com casacos de pele brancos tinham seus rostos perfeitamente emoldurados e ganhavam um ar de opulência.
Nas décadas seguintes a peça já era objeto desejo máximo das consumidoras. Aos poucos, foi perdendo a simpatia, não por uma questão política, mas pelo desgaste mesmo. A partir do final dos anos 60 com o movimento hippie, a contra-cultura, etc... Há alguns anos, surgiram vários protestos contra o uso das tais peles. Alegaram crueldade, disseram que era agressão à natureza, entre outras coisas.
O consumo realmente caiu.
Há alguns anos, porém, estilistas como John Galliano tem se mostrado grandes fanáticos pelas peles. Tudo isso aumenta a polêmica, os protestos, e nos coloca numa situação, no mínimo, delicada.
O uso de peles existe há tanto tempo quanto a própria humanidade e é uma grande hipocrisia dizê-lo mais cruel do que o consumo de carne ou o uso do couro. Podem alegar que "a carne é alimento, nós precisamos e blá blá blá". Não adianta, existem vários vegetarianos por aí que sobrevivem sem carne e não reclamam. Comemos carne porque gostamos do sabor, da textura, do cheiro. Poderíamos optar por só comer alface, mas queremos carne! Por quê? Porque somos seres racionais que não só lutam para sobreviver, mas também que querem ter prazeres durante a vida. A grande diferença de ser humano é essa: a opção de escolha na busca pelo mais prazeroso. Então, quem gosta de usar casaco de peles e não um moletom qualquer está, na verdade, buscando um status, um prazer e talvez até um conforto que outro tipo de roupa não tenha.
Ativistas do PETA (People for the Ethical Treatment of Animals) adoram pegar no pé dos fashionistas, das modelos e principalmente dos editores de moda que apóiam o uso de peles. Quem não se lembra do desfile da grife Victoria's Secret que foi invadido por moralistas segurando cartazes com frases agressivas? E do rato que colocaram no prato de Anna Wintour, editora-chefa da Vogue América e fã declarada das peles? Wintour cobriu o rato com um guardanapo e pediu a conta.
A atitude da editora da revista de moda mais vendida do mundo simboliza bem o que devemos pensar sobre tudo isso: não deixar que protestos fanáticos e moralistas façam a nossa cabeça, declarando o uso de peles como algo cruel e ponto. Ignorem esse tipo de coisa: ativistas do PETA, choros da Luíza Mel, não dá!
Da mesma forma, deve-se também não deixar influenciar por pessoas entendidas e revistas de grande circulação (como a Vogue), que incentivam o uso das peles, e se dizer a favor pelo simples fato de ir contra o moralismo.
O uso de peles não deveria acabar, nem crescer. Deveria ser esquecido. Sim! Esquecido. Vegetarianos doentes e pseudo-protetores da natureza deveriam deixar de lado os estilistas que gostam de peles, e influentes da moda deveriam parar de incentivar o pensamento pró-pele acima de tudo. Quem quiser usar, usa, quem não quiser, não usa.
Os protestos do PETA já causaram tumultos demais e pra quê? Alguém deixou de usar peles por isso? Já jogaram tinta-spray em casacos da Anna Wintour. Ela parou de usar peles? Parou de incentivar o uso delas? Não! Foi correndo comprar mais duas dúzias de visons novinhos. A única coisa que a polêmica, o moralismo e fanatismo natureba conseguem é chamar mais atenção para esse assunto, e fazer ganhar espaço os estilistas adeptos. Quando se há polêmica, há a provocação. Sempre! Então, se continuarem protestando (em vão), continuarão fazendo aparecer estilistas como Jean Paul Gaultier, que adora uma polêmica, e, na última Semana de Moda de Paris, usou e abusou das peles.
O status de um casaco de peles deveria ser deixado de lado também. Na verdade, é uma valorização retrógrada (lembre-se: coisa do início do século passado) e um tanto sem fundamento. Os argumentos moralistas, as pessoas que usam para provocar, as que usam para reivindicar, têm mesmo é que parar com tudo isso.
É preciso que essa gente perceba que é uma discussão inútil e inacabável, que só dá ênfase e agrava o problema.
E com tantos conceitos e ideologias que envolvem, por exemplo, um simples casaco de vision ou raposa, acabam se esquecendo do que deveria ser considerada a base da moda: a parte estética, visual.
Assim como comer carne é uma escolha que vai além da simples necessidade de alimentação, usar casacos de pele vai além de simplesmente se proteger do frio (mesmo essa sendo a intenção primária), envolve uma opção visual, uma questão de gosto e de estilo.
Você acha casacos de pele bonitos? Interessantes? Sente-se bem com eles? Use-os. Seja feliz. Acha uma crueldade? Fique longe. Acha horrível, mas odeia os ativistas do PETA e tem vontade de usar só como provocação? Pelo bem da Moda, não use. Dê um basta! Pense em outra coisa, mande uma cabeça de bode para Mary McCartney ou exponha ursinhos de pelúcia mutilados em alguma galeria famosa. Hmmm... Não. Melhor não fazer nada mesmo.
Esqueça um pouco a parte ideológica do assunto.
Pelo bem da Moda, sempre, pelo bem da Moda...

Mário LemesÉ articulista de Moda do site:http://www.revistamirabolante.com.br/

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